Dienstag, 24. Mai 2016

Homens e Deuses



Olá. Hoje mais um filme. Percebi que estou escrevendo mais sobre filmes do que sobre livros. Não tinha imaginado isso antes de comeҫar o blog, afinal sou mais leitora do que expectadora (é esse o nome em português?).

O filme de hoje é um filme francês de 2010, “Des hommes et des dieux”, em português „Homens e Deuses“.


 
O filme se passa na Argélia no ano de 1996, durante a guerra civil que acontecia por lá, relatando os acontecimentos dentro e ao redor de um mosteiro trapista com monges francêses. 

Esse mosteiro já existe há muitos anos nesse lugar, é bem aceito e faz parte da cidadezinha onde a maioria é islâmica. Quando comeҫam os conflitos no país, essa “calmaria” muda. Diferentes grupos querem diferentes coisas: uma parte quer que fiquem, outra que tenham uma escolta militar, outros que cuidem dos rebeldes, outros que vão embora.  E essas sugestões em partes são acompanhadas de ameaҫas.
O filme retrata de como essa comunidade de 9 monges lida com a situaҫão. Ficar ou voltar para a Franҫa, como lidar com o medo das ameaҫas, como continuar o trabalho, etc.
O final eu não vou contar, quem quiser saber pode assistir o filme, ler sobre ou me perguntar a parte (para não tirar o suspense).

O que eu mais gostei bastante foram duas coisas. 

Uma que o filme é calmo. Mesmo com um tema tão forte, os personagens não se deixam levar por emoҫões ou aҫões imediatistas. O estilo de vida da região (que parece de algum século bem distante, bem mais devagar do que nossa correria) e também de um monastério, convida a refletir sobre o tema e não tentar resolver ele de um jeito rápido.

E a outra foi o tema de tomar essa decisão. A decisão em si já é complicada e tomá-la em um grupo, respeitando a opinião do outro, continuar convivendo com o outro que tem uma opinião diferente, chegar a um consenso, coloca-lo em prática.... 
(A carta do monge Christian que ele escreve caso aconteҫa algo aos monges é um belo exemplo. Vou colocar no comentário uma versão em português.)

Em fim, um filme que me inspira e me dá esperanҫa de que mesmo em situaҫões absurdas, há a possibilidade de viver de acordo com nossos valores.

1 Kommentar:

  1. Testamento de Dom Christian de Chergé

    Aberto no Domingo de Pentecostes de 1996

    Quando se tem de enfrentar um A-DEUS...

    Se acontecer um dia - e poderia ser hoje -
    em que eu me torne uma vítima do terrorismo que agora parece pronto a engolir
    todos os estrangeiros que vivem na Argélia,
    gostaria que minha comunidade, minha Igreja e minha família
    se lembrassem que minha vida foi DADA por Deus e a este país.

    Peço-lhes que aceitem que o Único Mestre de toda vida
    não desconheceu esta partida brutal.
    Peço-lhes que rezem por mim:
    pois como poderia ser eu digno de tal oferta?
    Peço-lhes que consigam ligar esta morte às muitas outras mortes
    que são da mesma forma violentas, mas esquecidas pela indiferença e o anonimato.
    Minha vida não tem mais valor do que qualquer outra.
    Nem também menos valor.

    Em qualquer caso, ela não tem a inocência da infância.
    Vivi o bastante para saber que sou também um cúmplice no Mal
    que parece, infelizmente, prevalecer no mundo,
    mesmo naquele mal que me mataria cegamente.
    Gostaria que, quando vier o tempo, ter o momento de lucidez
    que me permitira pedir o perdão de Deus
    e de todos os seres humanos meus amigos,
    e ao mesmo tempo perdoar com todo meu coração aquele que me matará.

    Não desejo tal morte.
    Parece-me importante declarar isto.
    Não vejo, de fato, como poderia me alegrar
    se este povo que amo for acusado indiscriminadamente de meu assassinato.
    Responsabilizar um argelino, quem quer que seja,
    seria um preço muito alto para pagar
    para aquilo que talvez seja chamado "a graça do martírio",
    especialmente se ele diz que agiu em fidelidade com o que acredita que seja o Islã.

    Estou consciente da pecha que será jogada a todos os argelinos indiscriminadamente.
    Também tenho consciência da caricatura do Islã que um certo islamismo encoraja.
    É fácil salvar a própria consciência identificando-se nesta via religiosa
    com as ideologias fundamentalistas de seus extremistas.

    Para mim, a Argélia e o Islã são algo diferente: são um corpo e uma alma.
    Disse isto bastante freqüentemente, creio eu,
    sabendo que recebi aqui mesmo o verdadeiro caminho do Evangelho,
    aprendido no joelho de minha mãe, minha primeira Igreja de fato,
    na própria Argélia, e já inspirada com respeito por crentes muçulmanos.

    Minha morte, claramente, parecerá justificar
    aqueles que me julgam apressadamente ingênuo ou idealista:
    "Deixe-o dizer-nos agora o que ele pensa sobre isto!"
    Mas estas pessoas precisam compreender
    que minha mais ávida curiosidade será então satisfeita.
    Pois isto será o que serei capaz de fazer, se Deus assim o quiser -
    imerso meu olhar naquele do Pai,
    contemplarei com ele seus filhos do Islã da mesma forma como ele os vê,
    todos radiantes com a glória do Cristo,
    o fruto de sua Paixão, e cheio com o Dom do Espírito,
    cuja alegria secreta será sempre de estabelecer a comunhão
    e de remodelar a semelhança divina, brincando com nossas diferenças.

    Por esta vida perdida, totalmente minha e totalmente deles,
    agradeço a Deus que parece tê-la desejado inteiramente
    para esta ALEGRIA em tudo e a despeito de tudo.
    Neste AGRADECIMENTO, que resume minha vida inteira a partir de agora,
    certamente incluo vocês, amigos de ontem e de hoje,
    e vocês, meus amigos deste lugar,
    junto com minha mãe e meu pai, minhas irmãs e irmãos e suas famílias --
    cem vezes me foi dado a mais como prometido!

    E também você, o amigo do meu momento final,
    que não terá consciência do que estiver fazendo.
    Sim, quero AGRADECER a você e este "A-DEUS" é para você
    em quem eu verei a face de Deus.
    E possamos nós dois encontrarmo-nos, os felizes bons ladrões no Paraíso,
    se isto agradar a Deus, o Pai de ambos...
    Amen! In sha'Allah!

    Algiers, 1 de dezembro de 1993
    Tibhirine, 1 de janeiro de 1994
    +Christian

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